TRATAMENTO DE SEMENTES
- dinahps
- 23 de mar. de 2016
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Tratamento de sementes com fungicidas
Os organismos mais importantes que infectam as sementes são os fungos, responsáveis não só pela disseminação da doença, mas também pelo apodrecimento das sementes no solo, deterioração durante o armazenamento e a produção de micotoxinas. A colheita feita em condições de alta umidade aumenta a quantidade de sementes infectadas (Dhingra; Acuña, 1997).
O uso de sementes sadias é importante quando se pensa no plantio em novas áreas. Entretanto, nem sempre o produtor tem condições de fazer a análise fitossanitária das sementes que irá utilizar, portanto, o tratamento com fungicida é a medida de controle que previne a entrada e o estabelecimento de patógenos nas áreas de cultivo. Além disto, o tratamento com fungicidas protege a semente durante a germinação e as plântulas emergentes dos patógenos residentes do solo. O tratamento de lotes de sementes também trata as impurezas, como poeiras e fragmentos de plantas, que podem estar contaminados e que geralmente não são analisadas durante a análise fitossanitária dos lotes (Dhingra, 2005).
Para um tratamento eficiente das sementes com fungicidas deve-se levar em conta os seguintes fatores: a) uso da dosagem recomendada pelo fabricante; b) distribuição uniforme do produto nas sementes; c) aderência eficiente do produto às sementes para que se evite perdas durante a semeadura; d) eliminação do risco para o operador; e) não deve haver contaminação ambiental (Maude, 1996).
Os produtos químicos registrados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento são apresentados na tabela 1 (Doenças da Soja no Estado de Roraima).
Aplicação de micronutrientes
Atualmente, frente à constatação de deficiências, tem-se recomendado o uso dos micronutrientes cobalto (Co) e molibdênio (Mo) nas sementes junto aos fungicidas. A dose recomendada é de 12 a 30 g de Mo ha-1 e de 2 a 3 g de Co ha-1. A aplicação deve ser efetuada em mistura com os fungicidas sobre as sementes, por ocasião da semeadura, antes da inoculação. Já existem no mercado produtos para aplicação foliar que devem ser usados, conforme recomendação do fabricante, preferencialmente ao uso na semente.
A aplicação de Mo e Co nas sementes poderá, em função de pH, da salinidade e da ação bactericida para o Bradyrhizobium de alguns produtos, reduzir a sobrevivência da bactéria. Nesses casos, a aplicação desses micronutrientes poderá ser efetuada na mesma dose acima, em pulverização foliar, antes do início da floração.
Inoculação das sementes com Bradyrhizobium
Os trabalhos de pesquisa com soja, no Brasil, têm desenvolvido novas tecnologias de cultivo com aumento sucessivo de produtividade e, por consequência, maior necessidade de nitrogênio para a cultura. O nitrogênio é nutriente requerido em maior quantidade pela cultura, cerca de 80 kg ha-1 a cada tonelada de grãos colhidos.
As fontes de nitrogênio disponíveis para a soja são os fertilizantes nitrogenados e a fixação biológica de nitrogênio (FBN), que no Brasil se constitui na mais viável economicamente e ecologicamente para a cultura (Hungria et al., 2005). A simbiose que ocorre entre as plantas leguminosas e bactérias do gênero Bradyrhizobium(bactérias do grupo rizóbio), que resulta na formação de nódulos nas raízes da soja, possibilita a obtenção de todo o nitrogênio que a cultura necessita para alta produtividade (Hungria et al., 2005; Zilli et al., 2008).
Trabalhos intensivos da pesquisa em FBN têm ocorrido na busca de novas tecnologias de inoculação e de novas estirpes de bactérias que possam competir com as estirpes estabelecidas no solo na formação de nódulos. Atualmente, no Brasil, quatro estirpes são recomendadas, pela RELARE1, para a fabricação de inoculantes comerciais: SEMIA 5019 (29w), SEMIA 587, SEMIA 5079 (CPAC 15) e SEMIA 5080 (CPAC 7). Essas estirpes podem ser utilizadas individualmente ou combinadas duas a duas, a critério do fabricante de inoculantes.
Resultados obtidos em todas as regiões onde a soja é cultivada mostram que a aplicação de fertilizantes nitrogenados minerais no plantio ou cobertura, em qualquer estágio de desenvolvimento da planta, em sistemas de plantio direto ou convencional, não aumenta a produtividade da soja. Ao contrário, a aplicação de nitrogênio mineral em quantidade superior a 20 kg ha-1 de N tende a inibir a formação de nódulos nas plantas. Experimentos conduzidos utilizando até 400 kg ha-1 de N, divididos em dez aplicações durante o ciclo da cultura não resultaram em aumento da produtividade (Hungria et al., 2005).
1Rede de laboratórios para recomendação, padronização e difusão de tecnologia de inoculantes microbiológicos de interesse agrícola.
Em avaliações conduzidas nos cerrados de Roraima, embora a produção de biomassa da parte aérea de plantas de soja tenha sido ligeiramente maior quando aplicaram-se cerca de 200 kg ha-1 de N, parcelado em duas vezes, o rendimento de grãos obtido foi significativamente igual aos tratamentos inoculados (Zilli et al., 2005; 2006; 2008).
Desta forma, não se recomenda o uso de fertilizantes nitrogenados minerais para a cultura da soja, pois, além de reduzir a nodulação das plantas, não traz nenhum incremento de produtividade. No entanto, se as fórmulas de adubo contendo nitrogênio que o produtor for utilizar no plantio forem mais econômicas que as fórmulas sem nitrogênio, essas poderão ser utilizadas, desde que não sejam aplicados mais do que 20 kg ha-1 de N.
Qualidade e quantidade do inoculante
Os inoculantes turfosos, líquidos ou outras formulações devem conter uma população mínima de 1 x 108 células por grama ou ml de inoculante, terem eficiência simbiótica comprovada pela RELARE e serem registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
A quantidade mínima de inoculantes deverá ser aquela que forneça pelo menos 600.000 células rizobianas por semente de soja. Contudo, as avaliações realizadas em Roraima e nas principais regiões produtoras de soja tem mostrado que uma dose de 1.200.000 células semente-1 tem apresentado benefícios significativos na nodulação e FBN, mostrando ser interessante a utilização de uma maior concentração de células rizobianas nas sementes. Dessa forma, recomenda-se a dose de 1,2 milhões de células viáveis por semente, especialmente em áreas de primeiro cultivo ou com pousio prolongado.
A quantidade de inoculante a ser usado de dado produto comercial deve obrigatoriamente vir impressa na embalagem do produto, de acordo com registro no MAPA.
Cuidados com o inoculante e com a inoculação
Adquirir inoculantes recomendados pela pesquisa e devidamente registrados no MAPA. O número de registro deverá estar impresso na embalagem.
Não usar inoculante com o prazo de validade vencido.
Ao adquirir o inoculante, certifique-se que o mesmo estava armazenado em condições satisfatórias de temperatura e arejamento. Transportá-lo e conservá-lo em lugar fresco e bem arejado.
Os inoculantes devem conter as estirpes recomendadas para o Brasil (SEMIA 587, SEMIA 5019, SEMIA 5079 e SEMIA 5080).
Em caso de dúvida sobre a qualidade do inoculante, entrar em contado com um profissional da área.
Fazer a inoculação das sementes à sombra e, preferencialmente, efetuar a semeadura no mesmo dia, especialmente se as sementes foram tratadas com fungicidas e micronutrientes, mantendo as sementes inoculadas protegidas do sol e calor excessivo.
Evitar aquecimento em demasia do depósito das sementes na semeadora, pois altas temperaturas reduzem o número de bactérias viáveis aderidas às sementes.
Como fazer a inoculação
Cada produto comercial deve conter na embalagem a forma de inoculação. Por isso, antes de utilizar o produto é importante o produtor ler a embalagem do inoculante. De forma geral, os inoculantes turfosos podem ser aplicados da seguinte forma: umedecer as sementes com solução açucarada a 10% ou com produtos adesivos recomendados, sempre na proporção de 300 ml para cada 50 kg de sementes e fazer uma boa mistura. Evitar o excesso de umedecimento das sementes, pois pode causar danos às mesmas durante o plantio. Logo em seguida, adicionar o inoculante, fazendo novamente uma boa mistura. Todo o processo deve ser feito de preferência na sombra e utilizando máquinas próprias que existem no mercado, betoneiras ou tambores giratórios. No caso de utilização de inoculantes líquidos, fazer a inoculação conforme a recomendação e deixar a semente secar à sombra.
Um método de inoculação que tem sido utilizado para substituir os tradicionais é a aplicação do inoculante por distribuição no sulco de plantio. Para esse método, tem sido recomendado uma dose de inoculante pelo menos seis vezes maior que a dose para inoculação nas sementes. Já existem equipamentos próprios no mercado para esta aplicação, sendo recomendado o uso de pelo menos 50 l ha-1 da solução água e inoculante. A principal vantagem de utilizar esse método de inoculação é reduzir os efeitos tóxicos do tratamento com fungicidas e micronutrientes na semente.
Entre 2005 e 2007 foi conduzido, no cerrado de Roraima, um estudo comparando o tratamento de sementes com os fungicidas Carbendazim + Thiram e Carboxin + Thiran e inoculação com as estirpes SEMIA 587 + SEMIA 5019 diretamente na semente ou no sulco de semeadura da soja. As avaliações mostraram que Carbendazim + Thiram influenciaram negativamente a nodulação das plantas de soja quando a inoculação foi realizada diretamente na semente em comparação com a inoculação no sulco Também observou-se rendimento de grãos estatisticamente inferior no tratamento inoculado na semente e que recebeu Carbendazim + Thiram em comparação ao tratamento nitrogenado (Tabela 1).
A opção de aplicar o inoculante na semente ou no sulco de semeadura deve ser criteriosamente avaliada pelo produtor, pois, embora seja uma nova prática recomendável e que tem mostrado benefícios, a inoculação no sulco do plantio aumenta expressivamente os gastos financeiros com o inoculante, pois usa-se uma dose maior. O ideal seria tratar as sementes com fungicidas apenas naquelas situações indispensáveis como, por exemplo, em áreas com histórico de doenças ou utilização de sementes contaminadas. Não havendo a necessidade de se tratar a semente com fungicida, o produtor pode optar seguramente pela inoculação diretamente na semente..
Como avaliar a nodulação
Em condições de campo, entre 10-12 dias após a emergência das plantas é possível observar a formação dos primeiros nódulos, sendo comum um número entre 4 e 8 por planta. Nesta fase e até em torno de 18 a 20 dias é frequente observar, em Roraima, plantas de soja amareladas, especialmente quando comparadas com lavouras que receberam a aplicação de nitrogênio. Isto ocorre porque o nitrogênio aplicado via fertilizante mineral é prontamente utilizado pelas plantas, enquanto que, nas plantas inoculadas, a simbiose que resultará na FBN passa pelos seus “últimos ajustes” e o solo, como já mencionado, não tem nitrogênio para fornecer às plantas. É importante ressaltar que estes sintomas desaparecem alguns dias depois e não causam prejuízos ao desenvolvimento das plantas.
Por volta dos 25-30 dias após a germinação das plantas o produtor pode inspecionar a lavoura e verificar se a FBN está ocorrendo de forma satisfatória. Observa-se o aspecto geral do desenvolvimento das plantas e, percorrendo-se os talhões, arrancam-se algumas plantas, tomando o cuidado de coletar todas as raízes, e observa-se os nódulos formados. Uma planta bem desenvolvida deve apresentar pelo menos 10-15 nódulos com tamanho em torno de 2 mm na coroa da raiz (local de inserção das raízes primárias) (Hungria et al., 2001). É importante também cortar alguns nódulos e observar a coloração interna. Nódulos plenamente ativos apresentam coloração rósea, como resultado da presença da proteína leghemoglobina.
Em plantas com bom desenvolvimento os nódulos deverão continuar ativos durante todo o florescimento, podendo manter atividade durante o período de enchimento de grãos, quando se inicia a senescência.
Em Roraima, frequentemente têm surgido dúvidas, entre os produtores, da nodulação das plantas não estar adequada ao bom desenvolvimento das plantas de soja e, de fato, insucessos têm ocorrido. Se a inoculação foi realizada corretamente, espera-se que a nodulação seja satisfatória. Entretanto, se algo de anormal ocorreu e o produtor achar que a lavoura não está com desenvolvimento normal, este deve fazer uma avaliação minuciosa para decidir a viabilidade de uma aplicação de nitrogênio em cobertura. Isto não tem sido recomendado para lavouras de soja, mas pelo fato dos solos do lavrado serem muito pobres em matéria orgânica e nitrogênio, se as plantas não tiverem boa nodulação, a produtividade ficará comprometida. O ideal é o produtor contatar profissionais da área e avaliar o custo/benefício de uma possível adubação nitrogenada que não estava programada.